13 de maio de 2011

E Por Falar em Palavras... Speaking of Words...


Aproveitando o post anterior, achamos interessante e com tudo a ver e reproduzimos abaixo o texto escrito por Emanuel Mendes para o jornal mineiro Gazeta do Triângulo, na ocasião comentando sobre a recente cerimônia do Oscar de 2010. Sorry, pessoal, apenas em português.

Getting a ride on the previous post, we thought it could be interesting and so below you can find the article written by Emanuel Mendes for the newspaper Gazeta do Triângulo, commenting on the recent 2010 Academy Awards. Sorry, folks, in Portuguese only.

And the Winner is… Argentina!

Não adiantou nada os organizadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood - ou seja, o Oscar propriamente dito - terem tentado repaginar a já tradicionalíssima cerimônia do mais badalado prêmio do cinema mundial, nem mesmo o fato de retomarem a antiga e batida frase And the winner is... ao invés da já consagrada And the Oscar goes to... O Brasil, mais uma vez, ficou fora do páreo. E aquele que teoricamente era dado como o favorito - o alemão "A Fita Branca", sobre uma suposta origem do nazismo no interior germânico, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, mais inúmeros outros prêmios importantes, consagrando definitivamente seu diretor, o austro-alemão Michael Haneke - não apenas saiu da festa de mãos abanando, como viu subir ao palco, pela segunda vez em mais de vinte anos, um filme dos hermanos do continente - "O Segredo dos Seus Olhos", dirigido pelo competentíssimo Juan José Campanella.

Há muito já se discute a importância de o cinema brasileiro se consagrar em terras do Tio Sam - como se ganhar um Oscar fosse, de fato, um atestado de qualidade extremamente relevante -, mas o fato de o Brasil perder mais uma vez a vaga na cerimônia, expõe, sim, qualquer coisa de relevante. E isso é bem claro quando se percebe uma característica muito evidente nos filmes de longa-metragem realizados no país: a falta de boas histórias, ou, se quiser, a ausência de roteiros mais criativos, do contar uma narrativa de maneira inovadora, original.

Se tomarmos como exemplo os filmes que, após a tal da "retomada" do cinema brasileiro - iniciada, a rigor, com o "Carlota Joaquina" (1994), de Carla Camurati, um sucesso de público e moderado triunfo com a crítica - conseguiram vencer a barreira e chegar até o Oscar, temos os seguintes espécimes: "O Quatrilho", legítimo fragmento da telenovela brasileira levado ao sul do país; "Central do Brasil", melodrama on the road muito competente sobre a busca da identidade; "O Que É Isso, Companheiro?", thriller de suspense adaptado à realidade tupiniquim; e "Cidade de Deus", uma superprodução estilo Hollywood ambientada no mais incrível, exótico e extravagante cenário jamais imaginado pelo mais fervilhante roteirista da capital do cinema - a notória entidade brasileira chamada favela -, podemos perceber claramente duas características importantes: o apetite feroz, voraz e primitivo dos gringos por assuntos que tratam exclusivamente da barbárie dos países considerados periféricos (e os cineastas brasileiros, quase todos sedentos pela consagração definitiva e indispensável, sabem que é isso mesmo o que dá prêmio em festival), e por conseguinte a própria inoperância e deslumbramento dos mesmos gringos ao aceitar apenas este tipo de narrativa, como se o cinema brasileiro, e o cinema feito no continente sul americano, não tivesse mais nada para dizer. Esta é uma herança sem dúvida absolutamente nefasta e herdada categoricamente do Cinema Novo. Para quem não sabe, o Cinema Novo foi um movimento nascido nos anos 1960, liderado por alguns cineastas politizados, de extrema esquerda, que pretendiam mudar o chamado sistema, dentro de um hipotético nacionalismo imposto pelos militares, associado ao modernismo dos anos 1920/30 e ao tropicalismo, injetando obras inovadoras, "conscientes", e de ação majoritariamente política. No entanto, por mais criativos que tenham sido seus filmes, o movimento apenas conseguiu barrar bruscamente a evolução do cinema como arte industrial que começava a tomar forma no Brasil - através da implantação de dois sistemas de estúdios aos moldes de Hollywood, a Vera Cruz em São Paulo, e a Atlântida, no Rio de Janeiro -, além de afugentar o público das salas de cinema. E filme brasileiro, durante muito tempo, virou sinônimo de coisa ruim, associado a duas horas de projeção maçante sobre a realidade social e política brasileira, até ser novamente "retomado" por diretores e produtores que, em maior ou menor grau, resgataram essa temática, ensanduichada no meio de histórias mais lineares, cultas, direcionadas a uma determinada parcela da população, a fim de angariarem prêmios e prestígio - mas esquecendo, infelizmente, do principal elemento formador de um cinema de um país: seu próprio e imenso público. 


O que nos leva outra vez ao cinema que vem sendo realizado pelos vizinhos hermanos: em recente artigo publicado no O Estado de S. Paulo, o texto chama a atenção ao fato de que não necessariamente todos os filmes argentinos são bons ou responsáveis pelo regresso do público às salas de projeção, mas sim que existe a preocupação dentro deste mesmo cinema argentino com boas histórias, não unicamente centradas em cunho político, social ou engajadas de alguma forma, mas no entanto importando-se com uma característica essencial a um bom filme, de qualquer nacionalidade: o elemento humano, as emoções dos personagens, uma história bem contada, filmada de maneira eficiente e sem modorras e firulas narrativas. Porque é isso o que é O Segredo dos Seus Olhos – um modesto mas eficientíssimo filme argentino, que não pretende mudar o mundo ou inventar a roda da grafia cinematográfica.

Quebrar essa couraça – que parece funcionar quase como um mecanismo de defesa – arraigada na psique brasileira, sustentada não só pelos cineastas, mas pela mídia e jornalistas em geral, é o grande desafio das novas gerações de diretores, produtores e atores saindo do forno no Brasil para os próximos anos. Procurar a diversificação de temas – igualando-se ao vasto território do país –, aliar o bom-gosto, a sofisticação do olhar, à emolduração de qualquer questão social e política (ou não), mas sem jamais esquecer seu espectador, é o que deve reger o cinema do país de agora em diante – e felizmente espera-se que haja uma progressão natural das coisas neste sentido. A grande questão imposta por este artigo não é discutir se o Brasil merece ou precisa provar que tem de ganhar um Oscar (os americanos sabem fazer a coisa de forma tão bem-feita, que vencer o prêmio chega quase a parecer o ápice da vida humana, o máximo a que uma pessoa pode almejar em sua existência, tanto que o prêmio virou sinônimo de conquista – como dizer que fulano merece o Oscar por alguma coisa), mas simplesmente considerar essas as principais características para que o cinema brasileiro, se quiser atingir seu público, se necessita comunicar alguma coisa, e se deseja se firmar verdadeiramente como indústria, por menor que seja, deixe de ser estrangeiro em seu próprio país.


Este post é totalmente verdade.   This is a totally true post.

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