Benvindos à retrospectiva que preparamos
sobre o diretor Emanuel Mendes, cujo novo trabalho em curta-metragem, É Quase Verdade, está pronto para a
estreia. O filme, um documentário falso rodado em preto e branco, e o terceiro
na filmografia do cineasta, contém todos os elementos e idiossincrasias deste
gênero cinematográfico, mas também traz a marca muito pessoal de seu autor, um
cinema que não esconde a vocação para o fantástico e o extraordinário inseridos
no cotidiano de pessoas comuns. O texto abaixo traz alguns depoimentos além de
uma análise detalhada sobre os três filmes rodados por Mendes até agora – Assis & Aletéia (2002); Amarar (2008) e, é claro, É Quase Verdade (2014).
Se o cinema é imagem e som, sem a
necessidade do diálogo, como pregava o cineasta inglês Alfred Hitchcock (1899 –
1980), ou a mentira 24 quadros por
segundo, de acordo com a célebre declaração de Jean Luc Godard, ou ainda,
segundo a frase do alemão F. W. Murnau (1888 – 1930), que dizia que o filme ideal não precisa de frases ou
diálogos; por sua própria natureza, o cinema deve saber contar uma história
completa apenas com imagens, então o cinema em curta-metragem praticado por
Emanuel Mendes, um mineiro que se estabeleceu em São Paulo em 1999, segue essas
afirmações à risca. Pelo menos, é claro, os dois primeiros, Assis & Aletéia (2002), um conto de
amor surrealista inspirado por duas paixões do cineasta, o diretor espanhol
Luis Buñuel (1900 – 1983) e o pintor catalão Salvador Dalí (1904 – 1989), e Amarar (2008), também uma história de
amor com elementos do fantástico e do extraordinário, sobre uma jovem (Djin
Sganzerla, filha do enfant terrible
do cinema brasileiro, Rogério Sganzerla), perdida em devaneios, incapaz de
distinguir presente, passado e imaginação. Nenhum dos dois filmes contém falas,
explicações ou cartelas expositivas que ajudam o espectador a mergulhar no
labirinto de suas histórias.
“O que está em jogo não é a ação baseada
no diálogo, mas sim os sentimentos e sensações das personagens”, diz Mariana
Tavares, do canal Rede Minas, que entrevistou o diretor para o Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte em 2008. “Os filmes não são preto no
branco, é preciso que se monte as próprias narrativas na sua cabeça. Onde
começa a realidade e onde termina a ficção fica a cargo de cada um. Dessa
forma, os filmes respeitam a inteligência do espectador”, continua Mariana. Obviamente
isso não significa uma receita pronta para o sucesso ou ao menos uma acolhida
mais confortável por parte de quem os assiste. “As pessoas se esqueceram de
pensar – estão muito condicionadas por aquilo que veem na TV, na publicidade, as
fórmulas prontas, elas querem sair de um filme tendo entendido tudo, sabendo
exatamente quem é o mocinho e quem é o vilão. Se precisam pensar um pouco mais,
se esforçar para compreender algo, ou mesmo lidar com a ambiguidade (que é uma
das coisas que elas têm mais dificuldade), e não conseguem, sentem-se burras, e
a reação imediata é rejeitar aquilo que assistiram”.
Cena de "Assis & Aletéia" |
Assis
& Aletéia,
o curta de estreia de Mendes, obviamente não fugiu à regra. Rodado em 16mm, em
locações em São Paulo e na cidade mineira de Pouso Alegre (que emprestou a
pequena estação de trem e a locomotiva como cenários), sobre um rapaz que
encontra casualmente uma jovem (cujo rosto nunca vemos) em um vagão de trem, e
fica obcecado pelo umbigo dela à mostra, provocou os mais diversos tipos de
efeitos em festivais – desde sua primeira exibição no Festival de Gramado em
2002 até vaias, aplausos tímidos ou reações desconcertadas após o término com
diversas outras plateias. “Mas é um filme onde o estranho e o belo estão
intimamente conectados pelo desejo”, afirma Francisco Costabile, cineasta e
amigo de Mendes. “As cenas das mãos dadas com os galhos das árvores ao fundo,
ou mesmo a do lençol esvoaçante vista de longe são exemplos disso. A sensação
de estranhamento que o filme causa é muito grande, supera a ação dos atores, é
uma situação realista de se estar dentro de um trem em um contexto que não
queremos acreditar que é verdade, mas sim um sonho”.
Escrito em 1995, por Mendes e seu primo,
o psicólogo Christiano Lima, Assis &
Aletéia é inspirado pelo curta Um
Cão Andaluz (1928), realizado pela dupla Luis Buñuel e Salvador Dalí, e
considerado o marco inicial do surrealismo no cinema. A história segue o ponto
de partida do filme de Buñuel e Dalí – “ao invés de um olho dilacerado por uma
navalha, tivemos um umbigo cortado por um punhal”, conta Christiano. E há ainda
uma estranha coincidência em relação a formas circulares, ao umbigo, às rodas
do trem, ao próprio andamento da história, que começa e termina no mesmo lugar.
Uma obsessão, aliás, do cinema de Buñuel, cuja constância era quase sempre em
cima de cenas, situações e temas que se repetiam à exaustão. “Nós estávamos tão
apaixonados por Buñuel e Dalí, pelo método de trabalho deles, que chegamos
mesmo a copiá-los”, continua Christiano. “Combinamos que, se víssemos alguma
coisa inusitada ou diferente na rua, em qualquer lugar, contaríamos
imediatamente um para o outro, e partiríamos nossa história daquele ponto. E eu
vi: sentado no ônibus, indo para a Faculdade, eu não conseguia parar de olhar
para um cara à minha frente obsessivamente encarando o umbigo à mostra de uma
moça em pé.”
O resultado foi um curta-metragem
curtíssimo, de apenas 5 minutos de duração, que, hoje, Mendes considera mais
como um aprendizado, um filme cuja
intenção foi melhor do que a realização, mas que, segundo ele, serviu como
uma verdadeira escola de cinema. Todo produzido com dinheiro próprio, tendo
apenas a FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado), de São Paulo, como
apoiadora, com a câmera emprestada de amigos, o negativo vencido há mais de
seis meses, e uma série de outras dificuldades, mas que foram superadas pela
obstinação de um jovem diretor que, até hoje, parece não ter desertado do
constante exercício da provocação e da independência.
“Mas isso tem um custo”, diz Christiano
Lima. “O filme foi rejeitado pelas plateias de festivais, diversas pessoas
vieram nos perguntar o que diabos queríamos dizer com aquilo, e houve pessoas
que chegaram a afirmar que não se tratava de um filme brasileiro – era europeu
demais, hermético, muito influenciado por um cinema de fora”. E isso, segundo o
próprio diretor Mendes, em um formato onde a experimentação chega quase a ditar
as regras, onde se é permitido ousar muito mais do que em um longa-metragem,
que possui regras e imposições comerciais claras à sua distribuição e venda.
“Houve até quem implicasse, em alguns festivais, que o filme não possuía
roteiro simplesmente porque não possuía diálogos. Chega a ser assustador o
nível médio de intelecto por parte de algumas pessoas desse meio”.
Djin Sganzerla em cena de "Amarar" |
Mas o diretor continuou fiel a si mesmo,
aos seus princípios e à sua estética com seu trabalho seguinte, Amarar (2008), considerado, por ele
próprio, o melhor filme que fez até agora – um trabalho muito mais maduro, sob
todos os pontos de vista, aquele no qual Mendes viu-se transformado em um
diretor de cinema de verdade, segundo suas próprias palavras. A começar pela
duração: 23 minutos, quando o “normal” para este tipo de formato são 15
minutos, e que ainda por cima exige uma dose maior de atenção e percepção por
parte do espectador. E onde, segundo o diretor, ele aprendeu a não cometer os
erros do filme anterior, mas sim abrir-se à possibilidade de se cometer outros.
A ideia surgiu a Mendes depois de contar ao amigo e corroteirista André Campos
Mesquita sobre uma imagem que não lhe saía da cabeça: a de uma jovem mulher,
perdida em uma praia deserta, com um enorme espelho rachado ao seu lado.
“Na verdade, essa imagem possui uma
origem muito mais remota”, conta André. “Certa vez, ele me contou, o Emanuel
foi ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) e ficou muito impressionado por um
quadro (do naturalista Johannees Thermin)
que exibia uma mulher triste, com um vaso rachado ao seu lado. Estava ali o
cerne do nosso filme”, continua André. Depois de escreverem várias versões –
“uma a cada mês, durante seis meses, em um processo de workshop dos mais divertidos, engraçados e enriquecedores, também
cheio de dificuldades para se resolver a trama, ao ponto de nos referirmos ao
roteiro como “aquele assunto desagradável””, conta André –, a dupla realizou um
filme complexo, com muitas entradas e várias camadas de interpretação. Uma história
de amor – envolvendo a personagem de Djin Sganzerla, Noemi –, mas também um
conto sobre as lembranças de uma mulher madura (Helena Ignez, mãe na vida real
de Djin, ex-mulher de Rogério Sganzerla), ou simplesmente a narrativa de uma
garotinha com um poder de imaginação extraordinário, ou até mesmo com um trauma
de infância dos mais assustadores (a menina foi feita pela estreante-mirim
Bruna da Mata).
Bruna da Mata em "Amarar" |
Filmado em 2005, em película 35mm,
também em um esquema completamente independente, sem apoio,incentivo ou
recursos, demorou dois anos e meio para ficar pronto. Lançado em festivais em
2008, Amarar dividiu opiniões. “Mesmo
que o curta seja um formato de experimentação para jovens cineastas no país, o experimentalismo
aqui vai muito além da montagem fragmentada responsável pela cristalização do slogan do filme: “um labirinto de
memórias”. Ele está muito mais expresso no jogo que cria com o espectador, no
sentido de atingir seu inconsciente; no lúdico da fotografia; na interpretação
de seus atores; no sutil e terrível subtexto de sua narrativa – a história de
um estupro (e não exatamente aquele mostrado no filme) –; no uso muito adequado
da trilha sonora (que utiliza três composições do estoniano Arvo Part) e dos
barulhos “estranhos”, criando uma atmosfera de sonho (pesadelo?) raramente
vista em curtas-metragens”, analisa o crítico Roberto Gonçalves Júnior.
“Em alguns momentos Amarar parece remeter ao sonho. Em seguida, nos coloca numa perspectiva
de visão de futuro, para depois se revelar como visão de passado, memória. E por
fim, trauma. A riqueza da história contada por meio de animação estática (que é a apresentação do filme), que revela
por zooms que nos aproximam e
distanciam do relato o tempo todo, pontuados por uma linda trilha sonora, é
perdida por uma conclusão de narrativa por meio de símbolos de uma vida perdida
e que se ausenta. Se em determinados momentos os signos do filme imprimem
alguma tentativa de riqueza, reforçados pelas presenças de Djin Sganzerla e da
histórica Helena Ignez, isso se perde na tentativa pesada do diretor em buscar
uma solução para aquela fuga idílica da personagem. O retorno à animação
estática no fim só revela tristemente que a proposta se perde quase que por
completo”, segundo Thiago Macêdo Correia.
Djin Sganzerla em "Amarar" |
Para alguns, esse não parece ter sido o
resultado – como bem comprovado pela rejeição ao filme pelo comitê do Festival
Internacional de Curtas de Clermont-Ferrand, na França, quando uma de suas organizadoras,
e responsável pela seleção dos filmes, sequer deu chance para que ele fosse
visto pelos outros membros, porque alegava ela que o filme lhe remetia a um
trauma de infância do qual ela preferia esquecer categoricamente. Após uma
série de emails trocados entre Mendes e um outro organizador, as tentativas se
mostraram infrutíferas, e o filme ficou de fora. “Ainda assim, ele teve uma
carreira considerável, foi exibido na Áustria, na Espanha, e alguns outros
festivais do Brasil”, diz André. “A maior dificuldade, é claro, foi a longa
duração – o que o impediu de entrar na grade de programação da maioria dos
festivais, os quais exigem quase sempre filmes até 15 minutos”, completa André.
Ainda nessa seara do fantástico e do
extraordinário, Emanuel Mendes escreveu o roteiro do curta O
Homem Que... (2011), dirigido por Yuri Tarone, produtor
multimídia que, à época, conduzia alguns programas para a MTV em São Paulo. “A
ideia inicial era na verdade fazer um documentário sobre a loucura, mas a coisa
tomou um outro rumo e resolvemos fazer um filme de ficção cujo tema era a
loucura”, diz Tarone. O Homem Que... foi
também importante para que Mendes fundasse sua própria produtora, a Sincronia
Filmes, um sonho há muito acalentado. E pela qual lançou seu mais recente
trabalho no formato – É Quase Verdade,
outra vez um média-metragem (com 27 minutos), e outra vez um filme aberto a
inúmeras possibilidades.
"O Homem Que..." |
"É Quase Verdade" |
Muito da incompreensão que cerca uma filmografia em curso como a de Emanuel Mendes – e que, ironicamente, tem ecos com a de seu amigo em longas, Guilherme de Almeida Prado, um dos atores de É Quase Verdade –, muito de sua impopularidade em festivais e mostras, muitos de seus problemas e impasses, se devem a essa imersão em uma época fragmentada e em uma proposta estética que não se deixa apreender com facilidade. Pode-se gostar ou não dessa obra. O que não se pode negar é a sua coerência interna.
Welcome to the special retrospective we have prepared on director
Emanuel Mendes, whose new short film, It´s
Almost True, is all ready for release. The film, a mockumentary shot in
black and white, and the third on the helmer´s filmography, has all the
elements and idiossyncrasies of this genre, but it also has the personal
trademark and style of its auteur, a
cinema which does not hide its vocation towards the fantastic and the
extraordinary inserted in the reality of everyday man. The text below contains
some testimonies as well as detailed analysis on the three shorts directed by
Mendes so far – Assis & Aletéia
(2002); Amarar (Wave) (2008) and, of
course, It´s Almost True (2014).
If the cinema is the combination of image plus sound, without the need
for dialogue, like Alfred Hitchcock (1899 – 1980) used to say, or the lie 24 frames per second, according
to the famous saying by Jean Luc Godard, or still according to what German
director F. W. Murnau said that the ideal
picture needs no titles, by its very nature the art of the screen should tell a
complete story pictorially, then the cinema of short films made by
Brazilian director Emanuel Mendes, born in countryside Minas Gerais and who
established himself in São Paulo in 1999, fits the bill accordingly. At least
the first two of his films, Assis &
Aletéia (2002), a love tale inspired by two of the director´s greatest
passions, Spanish filmmaker Luis Buñuel (1900 – 1983) and painter Salvador Dalí
(1904 – 1989), and Amarar (Wave) (2008),
also a love story with elements of the fantastic and the extraordinary, about a
young woman (played by Djin Sganzerla, daughter of Brazilian cinema´s enfant terible Rogério Sganzerla) lost
in daydreams, incapable of seeing the difference among past, present and
fantasies. None of the films contains dialogues, explanations or intertitles
that help the viewer dive in their labyrinth.
“What is going on there is not the action based on dialogues, but the
feelings and sensations of the characters”, says Mariana Tavares, from Rede
Minas TV, who interviewed the director for the 2008 edition of the Belo
Horizonte International Short Film Festival. “The films are not that black and
white, you have to set the puzzles in your head. It´s up to the viewer to form
his or her own story interpretation. This way, the films respect the public´s
intelligence”, continues Mariana. This obviously does not mean a secret to
success or an easier embrace by the audience. “People have forgotten how to
think – they´re too much tied to what they see on TV, on advertising, the
ready-made formulas, they want to leave the theater having understood
everything, knowing exactly who was the hero and who was the villan. If they
are challenged into thinking a little bit more, if they have to make an effort
to understand something, or even deal with ambiguity (which is something they
are mostly incapable of), and they can´t, they feel stupid, so the immediate
reaction is to reject what they´ve just seen”.
Scene from "Assis & Aleteia" |
Assis & Aletéia, the first short by Mendes, has obviously not escaped this. Shot on
16mm, on locations in São Paulo and Pouso Alegre (a Minas Gerais town which
lended the filmmakers its small train station and locomotive as main sets), the
story is about a young man who casually meets a young girl (whose face we never
see) in a train wagon, becoming obsessed by her navel, the film provoked all
kinds of different effects at festivals – since its first screening at the
Gramado Latin Film Festival in 2002 until boos, shy applause and disconcerting
reactions from the public in general. “But it is a film where the strange and
the beauty are familiarly connected by desire”, says Francisco Costabile, a filmmaker
and a friend of Mendes´s. “The scenes of the two hands with the trees´s limbs
on the background, or even the fluttering white sheet seen from a distance are
examples of this. The feeling of weirdnness that the film arouses is very
strong, it even surpasses the actor´s performances, it is a completely
realistic situation of being inside a train wagon in a context we don´t want to
believe is true, but actually a dream”.
Written in 1995, by Mendes and his cousin, psychologist Christiano Lima,
Assis & Aletéia is inspired by
the short film Un Chien Andalou
(1928), directed by Luis Buñuel and Salvador Dalí, and considered the starting
point of Surrealism in the cinema. The story follows the starting point to that
of Buñuel and Dalí´s – “instead of an eye slashed by a razor, we had a navel
cut by a knife”, says Christiano. And also there´s a strange coincidence
regarding circular forms, the navel, the train wheels, the story´s narrative,
which starts and ends at the same spot. An obsession, btw, of Buñuel´s own
cinema, whose constancy had almost always been on situations and themes that
would repeat themselves. “We were so much in love with Buñuel and Dalí, by
their work method, that we decided to copy them”, continues Christiano. “We
agreed that, if we saw something interesting, on the street, anywhere, one
would immediately tell the other about it, and we would start our film from
that idea. And I happened to see: on the bus, on my way to College, I couldn´t
stop looking at a guy staring at a girl´s navel”.
Actor Fernando Seth as Assis |
The result was a short that was really short in length, only 5
minutes, which today Mendes himself considers more like a learning lesson, a
film whose intention was better than the final result, but which, according to him, was like truly film school
experience. It was all produced and financed with his own resources, having had
FAAP (The Armando Álvares Penteado College), in São Paulo, as its main
supporter, the camera that was lended from friends, the film stock which was
out of date for at least six months, among other difficulties, but which were
all overcome by a young director who, until today, has not yet abandoned
exercising provocation and artistic independence.
“But this is all very costly”, says Christiano Lima. “The film was rejected
by festival audiences, many people came to ask us what the hell we wanted to
say with that, and there were people who said it didn´t look like a Brazilian
film – it was too European, too hermetic, too much influenced by foreign
cinema”. And this, according to director Mendes, in a format where
experimental things are all what it is about, where you can dare do things differently
more than on a feature film, which has rules and commercial obligations
inherent to their own sale and distribution. “We even had some people
complaining about the script, saying we didn´t even write a script, because
there were no dialogue in it. I think it´s sometimes scaring the intellectual
level of some of the people in this medium”.
Djin Sganzerla in "Amarar" |
But the director continued faithful to himself, to his principles and
his aesthetic on his next move, Amarar
(international title Wave) (2008), considered, by Mendes
himself, his best film so far – a much more mature work, under all points of
view, the one that Mendes saw himself turned into a real film director,
according to his own words. Starting from the length itself: 23 minutes, when
the “normal” duration for this kind of film reaches 15 minutes in length. And a
film which also demands a tad more attention and perception on the part of the
viewer. And where he also learned how not commit the same mistakes from the
previous film, but instead be opened to the possibility of commiting new ones. The
idea came to Mendes after telling his friend and cowriter André Campos Mesquita
about an image that wouldn´t leave his head: the one of a young woman, lost on
a deserted island, with a giant cracked mirror by her side.
“Actually this image has a much more remote origin”, says André. “Once,
he told me, Emanuel went to Masp (The São
Paulo Art Museum) and was very much impressed by a picture (from naturalistic painter Johannees Thermin)
which showed a sad woman with a cracked vase by her side. That was the core to
our film”, continues André. After writing many versions of the script – “one by
each month, totalling six months, in a very fun and rich workshop process, but
also full of difficulties to fix the plot, to the point that we started
refering to the script as “that unpleasant subject””, says André – the duo made a
complex film, with many entrances and layers for interpretation. A love story –
involving the character played by Djin Sganzerla, Noemi – but also a tale of a
mature woman´s memories (played by Helena Ignez, mother of Djin´s, ex-wife of
Rogério Sganzerla), or simply the narrative of a little girl with an
extraordinary imagination, or even with one of a hell scaring childhood trauma
(the girl was played by newcomer Bruna da Mata).
Bruna da Mata in "Amarar" |
Shot in 2005, on 35mm film stock, also under an independent strategy, it
took two and a half years to be completed. Opening to film festivals in 2008, Amarar divided opinions. “Even though
short films are a format for experimenting among young filmmakers, the
experimentation here goes far beyond the fragmented montage responsible for the
concrete slogan of the film: a labyrinth
of memories. It is much more expressed in the game play with the spectator;
on the ludic of its cinematography; on the actors´s performances; on the subtle
yet terrible subtext of its narrative – the story of a rape (and not exactly
the one shown in the film) –; on the very effective use of music (which
utilizes three pieces by Estonian composer Arvo Part) and the weird soundtrack;
all of which create an atmosphere of dream (nightmare?) rarely seen or felt in
short films”, analyses film critic Roberto Gonçalves Júnior.
“For some moments, Amarar
seems to take you into the world of dreams. Then it places you on a perspective
of the future, only to reveal itself as a vision of the past, of memories. And,
finally, of trauma. The richness of the story told as static animation (which is the beginning of the film),
which zooms in and out, pontuated by a haunting musical score, is lost out of a
conclusion in the narrative using symbols of an absent life. If, for some
instants, the film signs give you some attempt of richness, reinforced by the
presence of Djin Sganzerla and the historic Helena Ignez, this is lost in the
director´s attempt in finding a solution for that idyllic escape of the
character. The return to the static animation in the end only shows off that
the proposal sadly misses the point”, according to Thiago Macêdo Correia.
Djin Sganzerla in "Amarar" |
“Amarar is enigmatic, a
poetic film, of a feminine soul”, says Mariana Souto, a journalist also
covering the Belo Horizonte International Short Film Festival. “But the fact is
it is so misterious, it communicates rather more aesthetic beauty than
emotional, even though its musical score denounces that the target was also to
emo; sometimes the low key notes are reverberated disproportionally, since what
we see on the screen fulfills your eyes, though it does not move you – considering
this was the intention”.
To some, this seems not to have been the result – as confirmed in the rejection
of the film by the official committee of the Clermont-Ferrand International
Short Film Festival, in France, when one of its organizers, and the one
responsible for the selection of the films, not only promptly rejected it but
also prevented the other members to see it, claiming that the film made her
remember a tragic happening of her youth that she prefered to forget forever.
After a series of brief email exchanges by Mendes and another member, the
attempts were useless, and the film was out. “Still, the film had a
considerable career, it was screened in Austria, in Spain, and some other film
festivals in Brazil”, says André. “The great hindrance, of course, was the long
running time – which prevented the film to be in most of the festivals, because
they usually demand 15 minute films”, completes André.
Still on the fantastic and the extraordinary turf, Emanuel Mendes writes
the script for the short The Man
Who… (2011),
directed by Yuri Tarone, a multimedia producer who, at the time, was running
shows for MTV Brazil in São Paulo. “The initial idea was to actually make a
documentary about madness, but the whole thing took on a different direction
and we decided to make a fictional film whose subject was madness”, says
Tarone. The Man Who… was also
important for Mendes because it was through the film that he founded his
production company, Sincronia Filmes, a dream come true. And by which he is
also releasing his most recent effort in the format – It´s Almost True, again a middle
length film (27 minutes long), and again a film opened to countless
possibilities.
"The Man Who..." |
"It´s Almost True" |
“The biggest difference now is that we have dialogues”, jokes André Campos
Mesquita, who reunited with Mendes again. “But the work structure, the modus operandi of the narrative,
everything is the same. Initially I threw to him the idea of making a real
documentary about beggars and homeless people, but he threw it back to me
saying he thought more interesting to make a mockumentary. And a mockumentary
not only following the traditional rules of this sort of genre – handheld
camera; shot on digital; in black and white etc –, but a mockumentary mocking
the eternal situation of Brazilian Cinema in wanting to show only the poverty,
violence, the Sertão and all the other clichès of the country in festivals
worldwide”, says André. “And a situation, BTW, that he experienced himself with
his previous films – this difficulty in showing what is different, the
non-clichè. Very well, now we have delivered a film where the face of Brazil
and the face of Brazilian Cinema are set wide open, and more than that, they
are mocked. It is poverty not as a scenery to tell “inspiring” or the so called
human stories, but the poverty which emerges, pointing the finger in your
face”.
Much of the
incomprehension which surrounds a filmography in the making like the one by
Emanuel Mendes – and which, ironically, echoes the one by his compadre and fellow director in feature
films, Guilherme de Almeida Prado, one of the actors in It´s Almost True –, much of its unpopularity in festivals and
exhibitions in general, many of its problems, are due to this immersion in a
fragmented time and into one aesthetic proposal that does not let itself absorb
so easily. You may like it or not. What you can not deny is its internal
coherence.
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