22 de setembro de 2011

Qual Língua Você Fala? What Language Do You Speak?


A essa altura do campeonato, todo mundo já sabe qual é o filme brasileiro selecionado oficialmente para representar o Brasil na próxima cerimônia de entrega do Oscar: "Tropa de Elite 2", a maior bilheteria da história do cinema do país, ultrapassando mesmo "Dona Flor e Seus Dois Maridos" lá atrás, em 1976, quando os dinossauros dominavam a Terra. Ou seja, aqui vamos nós outra vez com tiros, favela, violência e matança - se bem que como acontecimento político e social bastante relevante, como apontou o crítico Márcio Ferrari - representar o que o Brasil sabe fazer e mostrar de melhor nas telas do cinema. Mas deixemos este assunto para quando chegar a hora apropriada de discuti-lo e nos concentremos no recente texto do crítico Rubens Ewald Filho, que escreveu um artigo bastante pertinente analisando a história da categoria Filme em Língua Não-Inglesa (outra vez, so sorry, pessoal. Apenas em português). Ei-lo:

At this hour, everybody knows what film is the official candidate from Brazil to compete for next year´s Best Foreign Language Film at the Academy Awards: "The Elite Squad 2", the biggest hit in Brazilian cinema history, smashing up its predecessor "Dona Flor and Her Two Husbands", in 1976, when dinosaurs ruled the Earth. That is, here we go again with more explosions, bullets, the slums, and violence - although all this wrapped up in an important political and social context - to show the world how Brazilian cinema looks like. But let´s leave this subject out of the way (in the meantime), and let´s concentrate on this month´s relevant analysis by film critic Rubens Ewald Filho who wrote an interesting article on the Best Foreign Language Film category (again, folks, in Portuguese only. So sorry.). Here it is:


Oscar em Língua Não-Inglesa

É assim, com esse nome bem xenófobo, que a Academia denomina sua categoria mais confusa e imprevisível. A questão básica é muito simples. O Oscar e a festa do Oscar são basicamente ações para promover o cinema americano em todo o mundo, é um grande e muito bem-sucedido trabalho de marketing, e os estrangeiros estão ali apenas para justificar a globalização (na transmissão, nem merecem uma câmera no rosto do diretor indicado, como sucede com todos os outros). Dá a sensação de que furaram a festa alheia e a inclusão de cineastas estrangeiros que levam prêmios honorários existe mais para justificar, ratificar a importância cultural do prêmio. Afinal, quem dá um prêmio pela carreira de Fellini, Wajda, Kurosawa, ou S. Ray, certamente deve ser gente que se importa com o cinema como cultura. Ou seja, é digno de levar o nome de Academia.


Mas eles tomam o máximo de cuidado e criam o máximo de dificuldades para que esse prêmio não venha tomar uma dimensão grande demais que possa empalidecer o produto nacional, digo, norte-americano, já que no fundo eles sofrem de um complexo de inferioridade de colônia, particularmente diante dos ingleses. Ou dos franceses, que foram seus aliados na Guerra da Independência e que para eles ainda significa tudo o que há de ousado e sofisticado, o oposto da formação puritana dos americanos. Mas como qualquer um que tenha ligação com os norte-americanos de perto sabe, há vários problemas em relação aos filmes estrangeiros:


1 - Americano não gosta de filme legendado; não cresceu os assistindo como é o nosso caso, e não tem a agilidade visual para ler rápido as legendas;


2 - Poucos americanos têm o conhecimento suficiente de uma segunda língua para seguir um filme estrangeiro, mesmo um francês (que é ensinado em muitas high schools), ou espanhol (idem), sem legendas;


3 - O problema das dublagens nunca foi resolvido a contento. Elas são horríveis, muito piores do que as nossas, que, pasmem!, apesar da limitação do número de vozes, é das melhores do mundo. Em 2002, houve um caso famoso com o "Pinocchio", de Roberto Benigni, quando o filme foi dublado para o inglês por um jovem ator chamado Brecken Meyer, muito mais jovem que Benigni. E não houve um crítico que não destruísse a fita, que acabou um total desastre no mercado americano. Outras tentativas de dublagens por parte dos franceses foram igualmente mal sucedidas;


4 - A grande massa do público norte-americano não se interessa pelo que vem de fora. Toda a cultura deles é auto-centrada. Na verdade, se preocupam muito pouco com o exterior (vide exemplos na História: quando eles lutavam pelo isolacionismo evitando entrar na luta contra Hitler até o momento em que os japoneses atacaram Pearl Harbour). Reparem como mesmo em eleições para presidente há enorme abstenção, e como poucos se interessam por algo fora de sua comunidade ou bairro. Os mais inteligentes brincam que eles são "geographically impaired" (têm deficiências de geografia). Portanto, os filmes estrangeiros ficam limitados a um circuito paralelo de arte, que se limita às grandes cidades, geralmente onde há universidades ou imigrantes. Não chegam à middle America. Tem portanto um potencial de box office de bilheteria bastante limitado.  


5 - Dentro dessa constatação, é fácil checar a falta de conhecimento que o americano comum, mesmo sendo membro da Academia, tem do mundo exterior, e particularmente da América Latina. John Saxon, galã dos anos 1950/60, que hoje é membro voluntário do comitê de seleção dos filmes estrangeiros, me contou que agradece ao cinema o que sabe hoje, porque leu muito nos intervalos (geralmente longos) das filmagens. E o cinema também lhe permitiu viajar e conhecer muito - porque os filmes eram feitos em locações estrangeiras. Só por causa disso, sabe mais do que a média de seus compatriotas. E como todo ser humano, tem receio e pouco interesse pelo que desconhece. Ainda mais em uma sociedade atual onde as pessoas cada vez mais se isolam em seus casulos. 


Mais em:                                                  More at:


http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2011/09/21/polemicas-e-regras/


http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2011/09/21/vergonha/


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