27 de setembro de 2011

De Pernas pro Ar Falling Over

                              Ei, sou eu, o João.              Hey, it´s me, João.




Um dos momentos mais divertidos de nossa filmagem foi quando fomos entrevistar o João. João é uma figura ímpar em nosso elenco: apaixonado por Bardot, quase não deu um minuto de descanso à fatigada companheira que, acredita ele, também estava na sua, mas na realidade já tinha compromisso com outro. Nada disso, porém, impediu que João continuasse tentando. Tentou tanto que acabou se cansando. Foi aí que o pegamos no pulo e ele deu seu mais notório depoimento à nossa equipe. Abaixo, selecionamos um texto escrito por nossa produtora, Bianka Saccoman, a respeito do perfil de João, esse notório personagem que praticamente não precisou de esforço nenhum para dizer a que veio. Em português:


One of the most fun and exciting moments of our shooting was when we interviewed João. João is an exclusive character in our distinguished cast: madly in love with Bardot, he couldn´t give up on his tired mate for any single minute who, he firmly believes, is completely keen on him, but who actually was already involved with another guy. However nothing prevented him from trying endlessly. He tried so much that he completely gave up. It was only then that we could finally stop and talk to him. Below we have selected a little article written by our producer Bianka Saccoman about the ilustrious João, a movie character who practically needn´t have to do any effort to say who he actually was. In Portuguese only:


João de todo mundo, João de ninguém

Noite quente de sexta-feira, perto das oito horas. João repara atento o intenso movimento de carros no cruzamento das ruas Camilo e Catão. O olhar é distante, um pouco cansado. Seus cílios esbranquiçados e seu piscar pesado já refletem o cansaço dos tantos anos de vida.

Sentado na calçada, seu porte ainda é elegante, peito estufado e cabeça erguida. Sem se importar com o falatório ao seu redor e pessoas chamando seu nome, resolve tirar uma soneca, no asfalto mesmo. Mas o sono é leve e em poucos minutos desiste de dormir.

Mesmo morando na rua possui duas camas, uma de madeira e outra feita de almofadas e tecidos. Várias pessoas o alimentam, dão atenção e mimam o velhinho. João já não tem quase os dentes de baixo, quando boceja sua gengiva rosada torna-se aparente. A coisa que mais gosta de fazer é ficar na companhia de seus amigos e explorar o bairro. Anda sem pressa pelas ruas, sem medo dos carros, buzinas e pessoas passando. Como se a rotina da cidade em vez de agitada fosse tão tranquila quanto seu caminhar.

O paulistano, morador há mais de seis anos do bairro da Lapa, encontrou aconchego e muitos lares para lhe acolher. A região ainda se constitui majoritariamente de casas e moradores antigos, composta por trabalhadores aposentados das fábricas e indústrias que haviam por lá. Hoje, os prédios de alto padrão estão sendo erguidos em um ritmo cada vez mais rápido, na tentativa de mudar a configuração do bairro tradicional. João é famoso no pedaço, quase todos conhecem ou já ouviram falar dele, já teve até uma foto publicada em dois jornais.

João é um cão. Vira-lata de quase doze anos, vive entre duas pizzarias e dezenas de casas com moradores que zelam pela sua saúde e segurança. Sônia, motoqueira de um dos restaurantes é a que possui a voz mais ativa sobre o mascote. Ele obedece ao seu chamado, para de latir quando ordenado e senta quando solicitado.

A vida de João segue uma rotina sistemática. Passa a madrugada na varanda da casa de dona Clarisse, onde possui seus pertences – água, comida e cama limpa. Se Clarisse vai se deitar antes do cão, deixa o portão entreaberto para que possa abrir com a pata e ir para seu canto. “Já está acostumado”,  conta a dona de casa de 62 anos.

De manhã ele abre o portão e vai de encontro aos carinhos de Luciana, que possui uma empresa em frente à casa de dona Clarisse, ele permanece ali ao lado de suas pernas durante todo seu expediente, até mesmo enquanto conversa com um cliente. Continua com Luciana até a chegada de Sônia na pizzaria, então fica ao seu lado ou dormindo em sua casinha de madeira, localizada ao lado de fora do estabelecimento. Quando Sônia vai embora à noite, João atravessa a rua e vai descansar na casa de Clarisse.  No dia seguinte, a mesma rotina. 

Assim tem sido há muito tempo, desde que chegou no bairro. Era uma noite de inverno quando ele apareceu pela primeira vez. Sônia viu o animal todo machucado, sujo, e que tremia sem parar. Logo levou ao veterinário e todos da redondeza se interessaram em, mesmo que pouco, ajudar a cuidar do mais novo morador.

As obrigações são compartilhadas entre os vizinhos, conforme as condições de cada um. Sônia, mulher forte e enérgica cuida da educação de João. A empresária Luciana cuida do cãozinho à tarde, quando Sônia ainda não chegou ao trabalho. Dona Teresinha, 55 anos, mora em um apartamento pequeno e já possui uma cadelinha, não tem condições de abrigá-lo, mas pode pagar por seus gastos com comida, remédio, veterinário e pet shop. Dona Clarisse não consegue ajudar nessas despesas, mas disponibiliza parte de sua casa e seu afeto.

Sua alimentação é balanceada. Todos os dias Terezinha leva ração de manhã e à noite seu jantar reforçado, composto por frango desfiado ou carne moída com arroz.  Tudo bem picado em pedaços pequenos para não machucar os dentes que ainda restam na boca do velhinho. Faz consultas regulares no veterinário e toma banho no pet shop. Quando aparece com pulgas, carrapatos ou machucados, Sônia já corre ao seu veterinário de confiança, doutor Jeferson.

João não é fraco, não. Mora na rua, mas tem um tratamento de rei. O Natal e Ano Novo, ele não passa sozinho, levo pra minha casa, lá ele come uma ceia toda especial - assume Sônia, que prossegue:
- Agora acho que amanhã ele já vai tomar banho, ele toma de 15 em 15 dias.
- Não é de mês em mês? pergunta Paulo, um dos entregadores que prepara sua moto.
- Mês em mês você que toma, ele não! retruca Sônia.

O vira lata é bastante calmo, mas não gosta de fogos de artifício, rojão, gritos, nem de pessoas com sacolas muito grande nas mãos. Tem medo. Late e parte pra cima.
- É nesse momento que ele apanha, pois fica assustado e acaba assuntando também, mas ele não morde não - garante Sônia.
- Só se chupar a canela da pessoa, João não tem dentes - Paulo comenta sorrindo.
Ajeitando as roupas de cama de João, dona Clarisse fala orgulhosa sobre como seu amigo é cuidado: “Enquanto eu continuar morando nesta casa, ele será meu inquilino”. Na varanda de seu sobrado laranja, a senhora comenta a vida noturna do bon vivant:
- Ele é muito boêmio. Anda pela noite e só vem dormir lá pelas duas, três da manhã. Se deixo o portão fechado, ele raspa a pata ou late até que eu desista de dormir e venha abrir para ele.
João só não está no pedaço quando vai atrás de alguma cadela no cio. Mas não qualquer cadela, a paixão de sua vida é Stefani. É atrás dela que sai quando vagueia pelas ruas, ou some durante dias. É quando sua rotina sai do comum. Stefani também é da vida, não tem dono. Frequenta poucas vezes o bairro, por isso João tem que se deslocar tantas vezes até mesmo em noites frias e chuvosas. Certa vez, foi atrás dela. Era inverno e Sônia ficou preocupada pelo desaparecimento de dois dias de “mimi”, como costuma apelidar o vira-lata. Pegou sua moto e saiu à procura. Depois de muito rodar pelas ruas, Sônia encontrou João e Stefani juntos a mais ou menos seis quilômetros de onde costuma ficar. Nesta noite fria, João voltou na garupa da moto, com seus pelos castanhos e orelhas pontudas ao vento. Quando chegou, todos pararam para observar o mais novo motoqueiro, foi o assunto principal por semanas.

Sua maior peripécia foi ter desaparecido por quase cinco dias. Teresinha entrou em pânico, avisou toda redondeza. Não conseguia evitar que pensamentos negativos viessem a sua mente. Os dias iam passando e os moradores continuavam sem notícia do cão. Quando todos já estavam desesperados, uma amiga de dona Clarisse o encontrou na Avenida Sumaré. Clarisse saiu rapidamente de carro para poder buscá-lo, mas ao chegar lá, não conseguiu encontrar o cachorro, andou por todas as ruas e nada. Já sem esperanças, decidiu voltar para sua casa. Quando retornou, teve uma surpresa em seu portão. João já estava lá, havia chegado primeiro que a senhora. “Estava me esperando, com a cara mais lavada entre todas no mundo”, relembra com alegria.

A vida do cão não é só diversão, João também frequenta as eleições. Dona Clarisse conta que nas ultimas eleições presidenciais de 2010, cada senhor que descia a Rua Catão, o cachorro escoltava até a porta do colégio e em seguida retornava para esperar o próximo acompanhante. “João é cidadão, já foi votar diversas vezes”, gargalha dona Clarisse.

Em uma tarde nublada, com jeito de chuva, o cão não está em sua casinha de madeira, nem na varanda de dona Clarisse, que fala prontamente: “Ah, o João uma hora dessas tá trabalhando, deve estar na firma.” A firma é um estabelecimento que serra e comercializa madeira, e é lá que trabalham Luciana e Tereza.
Dona Terezinha, sentada na porta da empresa, conta com os olhos marejados, sobre a tristeza de um dia perder seu amigo:
- Uma vez ele arrumou uma briga danada. Um cachorro maior que ele e mais novo avançou, mordeu feio mesmo. Fiquei tão desesperada que o pessoal não sabia se acudia ele ou a mim. Fico só pensando no dia em que ele se for, não gosto nem de imaginar, mas é uma verdade, porque ele já está capengando. Por isso aproveito ao máximo todos os momentos que posso com ele e sei que os outros moradores também o fazem.
Sônia tem planos de levar o cachorro para sua casa. Mas teme que o boêmio não se acostume com a falta de liberdade que um quintal irá lhe impor. Os moradores também não gostam muito da ideia. Ernesto, dono da pizzaria que abriga a casinha de madeira e a comida do cão, afirma claramente: “Não vai se acostumar não. 
O João não tem dono, ele é de todo mundo e aqui, todo mundo é do João.”

Com sua idade já avançada, João retribui calmamente, com pouca empolgação, mas não com menos afeto, os carinhos recebidos. Pode fazer pouco por aqueles que lhe cuidam. Seu maior feito está exatamente na sua existência. Ajudou a desenvolver laços de amizade entre pessoas tão distintas que se uniram para um bem comum e transformaram o cruzamento das duas ruas muito mais do que um pedaço do bairro, o transformaram em uma comunidade.

Este post é quase verdade.                                                      This is an almost true post.  

22 de setembro de 2011

Qual Língua Você Fala? What Language Do You Speak?


A essa altura do campeonato, todo mundo já sabe qual é o filme brasileiro selecionado oficialmente para representar o Brasil na próxima cerimônia de entrega do Oscar: "Tropa de Elite 2", a maior bilheteria da história do cinema do país, ultrapassando mesmo "Dona Flor e Seus Dois Maridos" lá atrás, em 1976, quando os dinossauros dominavam a Terra. Ou seja, aqui vamos nós outra vez com tiros, favela, violência e matança - se bem que como acontecimento político e social bastante relevante, como apontou o crítico Márcio Ferrari - representar o que o Brasil sabe fazer e mostrar de melhor nas telas do cinema. Mas deixemos este assunto para quando chegar a hora apropriada de discuti-lo e nos concentremos no recente texto do crítico Rubens Ewald Filho, que escreveu um artigo bastante pertinente analisando a história da categoria Filme em Língua Não-Inglesa (outra vez, so sorry, pessoal. Apenas em português). Ei-lo:

At this hour, everybody knows what film is the official candidate from Brazil to compete for next year´s Best Foreign Language Film at the Academy Awards: "The Elite Squad 2", the biggest hit in Brazilian cinema history, smashing up its predecessor "Dona Flor and Her Two Husbands", in 1976, when dinosaurs ruled the Earth. That is, here we go again with more explosions, bullets, the slums, and violence - although all this wrapped up in an important political and social context - to show the world how Brazilian cinema looks like. But let´s leave this subject out of the way (in the meantime), and let´s concentrate on this month´s relevant analysis by film critic Rubens Ewald Filho who wrote an interesting article on the Best Foreign Language Film category (again, folks, in Portuguese only. So sorry.). Here it is:


Oscar em Língua Não-Inglesa

É assim, com esse nome bem xenófobo, que a Academia denomina sua categoria mais confusa e imprevisível. A questão básica é muito simples. O Oscar e a festa do Oscar são basicamente ações para promover o cinema americano em todo o mundo, é um grande e muito bem-sucedido trabalho de marketing, e os estrangeiros estão ali apenas para justificar a globalização (na transmissão, nem merecem uma câmera no rosto do diretor indicado, como sucede com todos os outros). Dá a sensação de que furaram a festa alheia e a inclusão de cineastas estrangeiros que levam prêmios honorários existe mais para justificar, ratificar a importância cultural do prêmio. Afinal, quem dá um prêmio pela carreira de Fellini, Wajda, Kurosawa, ou S. Ray, certamente deve ser gente que se importa com o cinema como cultura. Ou seja, é digno de levar o nome de Academia.


Mas eles tomam o máximo de cuidado e criam o máximo de dificuldades para que esse prêmio não venha tomar uma dimensão grande demais que possa empalidecer o produto nacional, digo, norte-americano, já que no fundo eles sofrem de um complexo de inferioridade de colônia, particularmente diante dos ingleses. Ou dos franceses, que foram seus aliados na Guerra da Independência e que para eles ainda significa tudo o que há de ousado e sofisticado, o oposto da formação puritana dos americanos. Mas como qualquer um que tenha ligação com os norte-americanos de perto sabe, há vários problemas em relação aos filmes estrangeiros:


1 - Americano não gosta de filme legendado; não cresceu os assistindo como é o nosso caso, e não tem a agilidade visual para ler rápido as legendas;


2 - Poucos americanos têm o conhecimento suficiente de uma segunda língua para seguir um filme estrangeiro, mesmo um francês (que é ensinado em muitas high schools), ou espanhol (idem), sem legendas;


3 - O problema das dublagens nunca foi resolvido a contento. Elas são horríveis, muito piores do que as nossas, que, pasmem!, apesar da limitação do número de vozes, é das melhores do mundo. Em 2002, houve um caso famoso com o "Pinocchio", de Roberto Benigni, quando o filme foi dublado para o inglês por um jovem ator chamado Brecken Meyer, muito mais jovem que Benigni. E não houve um crítico que não destruísse a fita, que acabou um total desastre no mercado americano. Outras tentativas de dublagens por parte dos franceses foram igualmente mal sucedidas;


4 - A grande massa do público norte-americano não se interessa pelo que vem de fora. Toda a cultura deles é auto-centrada. Na verdade, se preocupam muito pouco com o exterior (vide exemplos na História: quando eles lutavam pelo isolacionismo evitando entrar na luta contra Hitler até o momento em que os japoneses atacaram Pearl Harbour). Reparem como mesmo em eleições para presidente há enorme abstenção, e como poucos se interessam por algo fora de sua comunidade ou bairro. Os mais inteligentes brincam que eles são "geographically impaired" (têm deficiências de geografia). Portanto, os filmes estrangeiros ficam limitados a um circuito paralelo de arte, que se limita às grandes cidades, geralmente onde há universidades ou imigrantes. Não chegam à middle America. Tem portanto um potencial de box office de bilheteria bastante limitado.  


5 - Dentro dessa constatação, é fácil checar a falta de conhecimento que o americano comum, mesmo sendo membro da Academia, tem do mundo exterior, e particularmente da América Latina. John Saxon, galã dos anos 1950/60, que hoje é membro voluntário do comitê de seleção dos filmes estrangeiros, me contou que agradece ao cinema o que sabe hoje, porque leu muito nos intervalos (geralmente longos) das filmagens. E o cinema também lhe permitiu viajar e conhecer muito - porque os filmes eram feitos em locações estrangeiras. Só por causa disso, sabe mais do que a média de seus compatriotas. E como todo ser humano, tem receio e pouco interesse pelo que desconhece. Ainda mais em uma sociedade atual onde as pessoas cada vez mais se isolam em seus casulos. 


Mais em:                                                  More at:


http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2011/09/21/polemicas-e-regras/


http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2011/09/21/vergonha/


Este post é totalmente verdade.                                                            This is a totally true post.

18 de setembro de 2011

"É Quase Verdade" Termina Filmagem; Material Está Incrível "It´s Almost True" Wraps; Rushes Look Great

                       É um pássaro? É um avião? Não: é o olho biônico de Cassettari

E eis que finalmente a equipe de "É Quase Verdade" pôde finalmente empacotar tudo e celebrar o fim das filmagens. Agora começa um outro processo - o longo e divertido caminho de colocar ordem na casa, de selecionar as melhores imagens, os melhores ângulos, as melhores falas. Em uma conversa com o co-roterista André Campos Mesquita, o diretor Emanuel Mendes comentou como o material está incrível - melhor até do que a encomenda. "Nós tínhamos um roteiro muito bacana. Mas não imaginávamos como ele ficaria ainda melhor filmado, com vários acréscimos, coisas novas e idéias que foram surgindo pelo caminho".

Ainda há um longo processo até a estréia, mas vamos informando a todos à medida que as coisas forem acontecendo. That´s a wrap, boys.


And so the crew of "It´s Almost True" could finally wrap things up and celebrate the end of the shooting. Now comes another process - the long and fun path of editing up the best images, the best camera angles, the best lines. In a chat with cowriter André Campos Mesquita, director Emanuel Mendes commented on the fact that the rushes look great - much better than they could´ve ever imagined. "We knew we had a good script in hands. But we couldn´t ever, in our wildest dreams, figure out how incredible it would look like in the end - with lots of addings, new things and ideas that came along the way."


There´s still a long process coming out until the premiere, but we´ll keep you up to date as things move along. That´s a wrap, boys.


Este post é totalmente verdade.                                      This is a totally true post.